Um país com uma independência forte

A República Democrática Popular da Coreia é globalmente conhecida como sendo um país extremamente independente dada a perseverança dos princípios da independência política, da auto-suficiência económica e da auto-suficiência da sua defesa nacional.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

A firme resolução da Coreia do Norte não é temerária, é legítima


Finian Cunningham | Resistir.info - O teste mais recente de um míssil balístico de longo alcance da Coreia do Norte verifica-se poucos dias depois de o novo presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, ter tomado posse afirmando que estava pronto para conversações diplomática com o seu vizinho do Norte. 

O teste do míssil, o qual confirmadamente demonstra que o Norte alcançou capacidade balística para lançar um ataque armado a território dos EUA, segue-se também ao anúncio do presidente Donald Trump, no princípio deste mês, indicando seu desejo de manter conversações frente-a-frente com o líder norte-coreano Kim Jong-un. 

Trump na semana passada convidou o recém eleito presidente Moon para ir a Washington discutir a crise coreana, após a sua eleição em 9 de Maio. Moon Jae-in, um advogado especialista em direitos humanos, adoptou uma atitude mais conciliatória em relação à Coreia do Norte do que os seus antecessores de direita em Seul. Recentemente ele também exprimiu críticas à posição militarista de Washington em relação ao adversário norte-coreano e apelou ao invés a conversações regionais com a China e Japão a fim de tentar desnuclearizar a península. 

Pode parecer um tanto estranho, portanto, que Kim Jong-un tenha ordenado o teste de míssil neste fim de semana. Previsivelmente, ele obteve com isso críticas de Washington e Seul, os quais denunciaram o teste como mais uma provocação e violação das sanções da ONU. Os EUA, Coreia do Sul e Japão pediram uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU. Assim, o último teste de míssil pareceria mostrar que a Coreia do Norte estaria implacavelmente a comprometer delicadas aberturas para negociações diplomáticas. 

Segundo informações dos media, citando a agência oficial de notícias KCNA da Coreia do Norte, o teste mais recente revela uma nova espécie de motor balístico, o qual deixa o estado comunista muito mais próximo de obter um míssil balístico intercontinental (ICBM). Alcançando uma altitude de mais de 2100 quilómetros, o míssil Hwasong-12 foi calculado para ter capacidade de atingir um alvo a mais de 4500 km se voar mais baixo, na trajectória normal. Isso dá à Coreia do Norte o alcance para atacar o território estado-unidense da ilha de Guam, no Pacífico. O míssil foi disparado deliberadamente num ângulo agudo de modo a que não infringisse territórios vizinhos. Ele caiu no Mar do Japão, dentro das águas territoriais da Coreia do Norte. 

Bases do EUA na Coreia do Sul. Para um ataque à costa Oeste dos EUA a Coreia do Norte precisaria ter um míssil capaz de voar 8000 km – mas ainda não o tem. 

Em consequência do teste deste fim de semana, a administração Trump reagiu com apelos a todos os países para imporem sanções ainda mais duras à Coreia do Norte. O embaixador dos EUA na ONU, Nikki Haley, disse que Washington e seus aliados "apertariam os parafusos" sobre Kim Jong-un. 

A Rússia, contudo, adoptou uma abordagem mais moderada e sabiamente apontou para a fórmula mais abrangente que é necessária a fim de resolver a arrastada crise coreana. Ao falar na cimeira económica de Pequim, na segunda-feira, o presidente Vladimir Putin disse que o último teste do míssil norte-coreano era "contra-producente" e "perigoso". Contudo, ele também assinalou sem rodeios o quadro maior, o qual é absolutamente chave para encontrar um meio de evitar uma confrontação desastrosa. 

Sem mencionar especificamente os EUA pelo seu nome, Putin disse que Washington deve desistir de "intimidar" a Coreia do Norte. Ele conclamou todas as partes a "encontrarem soluções pacíficas". 

De modo crucial, o líder russo ampliou o contexto da crise coreana. Ele disse que a preparação para combate (saber-rattling) de Washington e a sua postura de "mudança de regime" estava a incitar uma "corrida às armas" e a um futuro conflito. 

Nas últimas semanas, numerosos altos responsáveis dos EUA, incluindo Trump e seu chefe da Defesa James Mattis, ameaçaram explicitamente a Coreia do Norte com um ataque militar preventivo (pre-emptive). Os EUA ao conduzirem os chamados "jogos de guerra" com navios, submarinos e aviões com capacidade nuclear têm escalado [o conflito] na Península Coreana, enquanto Washington emite ultimatos a Pyongyang para abandonar seu programa de armas nucleares e testes de mísseis balísticos. 

Dado o contexto da agressão americana, o teste de míssil mais recente da Coreia do Norte parece não um acto temerário e sim uma declaração resoluta do seu direito à auto-defesa. 

Christopher Black, um advogado internacional especializado em crimes de guerra que estudo longamente a geopolítica da região, afirma que a Coreia do Norte quer ver acção substantiva por parte dos EUA e dos seus aliados rumo a um acordo pacífico, não apenas retórica a aludir a compromissos diplomáticos. 

Black afirma: "Sinais recentes de Trump e da Coreia do Sul em favor da diplomacia serão vistos pela Coreia do Norte como artifícios tácticos para levá-los a atrasar seu programa de defesa. Eles confiarão só em acções concretas em favor da paz, não em mera retórica, e até que as forças dos EUA deixem a península e cessem de ameaçar militarmente o Norte, Pyongyang assumirá que o status quo de agressão dos EUA continua. Daí a sua contínua determinação em desenvolver a sua defesa. O teste de míssil mais recente é uma declaração clara da intenção do Norte de continuar a desenvolver os meios para defender-se uma vez que vê os EUA a esgrimirem força unilateralmente". 

O problema aqui, como sempre, é o arrogante "excepcionalismo americano". Toda a consternação dos media ocidentais sobre o novo míssil balístico da Coreia do Norte ser capaz de atingir o território estado-unidense de Guam omite o reconhecimento de que aquela base aérea americana tem bombardeiros pesados B1, B2 e B52 estacionados permanentemente, os quais têm estado envolvidos em manobras ameaçadoras contra a Coreia do Norte durante os últimos 64 anos, desde o fim da Guerra da Coreia (1950-53). 

Os EUA nunca assinaram um tratado de paz no fim da guerra civil em que apoiou o Sul. Portanto, do ponto de vista da Coreia do Norte, os EUA tecnicamente ainda estão em guerra consigo. E "exercícios de guerra" anuais pelas forças estado-unidenses em torno da Península Coreana são encaradas como uma ameaça intimidatória. Sob o direito internacional, esta dissimulação dos EUA é uma agressão aceitável contra a Coreia do Norte. 

Também se deve ter em mente que quando a Coreia do Norte empenhou-se em conversações multilaterais para cessar seu programa nuclear, mais de 20 anos atrás, foram os EUA sob o presidente GW Bush que actuaram de má fé ao renegar compromissos assumidos para fornecer tecnologia nuclear civil e outras formas de ajuda ao desenvolvimento. Sentindo-se traído, o Norte retomou seu programa de armas nucleares, tendo o seu primeiro teste com êxito ocorrido em 2009. Desde então a Coreia do Norte efectuou quatro destes testes. E um sexto poderia estar iminente. 

Como observou esta semana o presidente Vladimir Putin, os EUA atribui-se a si próprio o direito de exigir desarmamento unilateral enquanto ameaça também com mudança de regime. E assim, quando a Coreia do Norte responde a esta arrogante intimidação de Washington com o desenvolvimento de armas, Washington reage com ainda mais brutalidade, como se a Coreia do Norte estivesse a afrontar normas internacionais. 

Diplomacia e diálogo são o único meio para resolver o conflito coreano, velho de décadas. Mas para isto acontecer, não deveriam ser impostas à Coreia do Norte condições prévias para primeiro "mostrar bom comportamento". Quem são os EUA para exigirem "bom comportamento" a alguém? 

Deve haver respeito mútuo e um reconhecimento mútuo dos EUA de que suas forças militares na região são parte do problema, não parte da solução. Só ao fazer um pleno compromisso de paz na Coreia através de um Tratado de Paz, e com a retirada das suas forças da região, poderá ser encontrada uma saída pacífica. 

A arrogância americana é tão perigosa como suas numerosas armas de destruição em massa apontadas à Coreia. E enquanto essa arrogância monstruosa prevalecer, a Coreia do Norte tem o direito de desenvolver resolutamente seus meios de defesa. 


Foto: Sputnik | Ilia Pitalev

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Trump, na Coreia do Norte estará a assassinar seres humanos!


Andre Vltchek | Resistir.info - Quando penso na Coreia do Norte, a primeira imagem que me vem à memória é uma névoa sobre a superfície calma e majestosa do Rio Taedong perto de Pyongyang. Então, lembro sempre aqueles dois amantes, ligados num abraço terno e quase desesperado, sentados lado a lado na margem. Vi-os todos os dias, durante os meus passeios matinais. 

Agora, enquanto a "armada" de Donald Trump, navega em direcção à China e à RPDC lembro esses momentos: a falésia, os amantes e um pescador isolado com sua comprida cana de pesca do outro lado do rio. Tudo na minha memória ligado a essas madrugadas está imóvel, sereno. 

Por vezes pergunto-me se as palavras têm ainda o poder que tiveram alguma vez. No passado, um belo poema, uma confissão ou uma declaração de amor eram capazes de mudar uma vida inteira, às vezes até o destino de uma nação. Mas será ainda hoje o caso? Como escritor, sinto muitas vezes a futilidade, mesmo o desespero. Contudo, como internacionalista, recuso-me a sucumbir ao pessimismo, e tento usar as palavras como armas, uma e outra vez. 

Eu já disse muito sobre a Coreia do Norte. Mostrei fotos. Falei sobre a dor inimaginável que este país teve de suportar. Falei extensamente sobre seu gesto enorme – a ajuda para libertar e educar muitas partes do mundo, incluindo o imenso e devastado continente africano. 

Edifícios de habitação em Pyongyang. Mas a propaganda contra a RPDC ainda predomina. 

Deixai-me tentar de novo, mais uma vez. A Coreia do Norte é um país magnífico, habitado por seres humanos, com sangue a circular nas suas veias. Apesar do que directa e indirectamente vos dizem, essas pessoas sentem dor e são capazes de experimentar grandes alegrias. Como outros, eles sonham muitas vezes, apaixonam-se e sofrem quando são insultados, ou traídos, ou abandonados. Riram e choraram, dão-se as mãos, irritam-se e até desesperam. Têm grandes esperanças de uma vida melhor e trabalham duramente para construir o seu futuro. 

Então, escute bem, você que dirige ou supervisiona o que chama de " ;mundo livre" ;. Ou será necessário chamar-lhe " ;Presidente" ;? OK, seja Presidente... Se você disparar os seus mísseis Tomahawk (como fez recentemente na Síria), ou se você lançar a sua " ;mãe de todas as bombas" ; (como fez num lugarejo miserável, abandonado no Afeganistão, apenas para demonstrar a sua agressividade e a sua força destrutiva), os seus corpos irão ser desfeitos e pessoas vão morrer em agonia. As mulheres gritarão de desespero ao enterrar seus maridos, os avós serão obrigados a cobrir os cadáveres dos seus netos com roupa de cama branca, bairros e aldeias inteiras deixarão de existir. 

Claro, que é o que a sua gente faz por toda a parte. Pensam que são os donos do mundo, tão habituados a espalhar a dor e a desolação em todos os lugares. Mas deixe-me lembrá-lo mais uma vez e escrever preto no branco: isto pode parecer um divertido vídeo game ou um programa de TV, mas não é o caso. Tudo é real quando a sua porcaria atinge o alvo, é realmente real! Pela minha parte já vi bastante disso, realmente já vi demais! Eu sei que não é o que lhe dizem, e não é o que você diz aos outros. 

Teatro em Pyonyang. Supõe-se que os norte-coreanos sejam olhados e se comportem como uma nação de robôs sem cérebro, a quem faltam emoções básicas e individualidade, olhando sem nada ver, incapazes de sentirem dor, compaixão ou amor. Você não quer ver a verdade, a realidade é que você quer que os outros também sejam cegos. 

Mesmo que você reduzisse a RPDC a migalhas, você não veria muito, você não veria quase nada: apenas os seus próprios mísseis disparados dos seus navios de guerra, submarinos e aviões descolando dos seus porta-aviões, bem como algumas imagens de computador das poderosas explosões. Nenhuma dor, nenhuma realidade, nenhuma agonia nada lhe tocaria. Nada afectaria você, você e os seus cidadãos. 

É você quem está cego, não eles os norte-coreanos. 

Na verdade, você gosta disso, não é? Admita-o. Vamos ser francos. E muitas pessoas no Ocidente gostam disto também – estas novas experiências palpitantes, este " ;divertimento" ;' gratuito, esta pausa bem-vinda na sua rotina diária, vazia, cinzenta, sem amor e sem significado, na América do Norte e na Europa com centenas de milhões de telespectadores colados aos seus ecrãs de televisão. A sua popularidade está em baixa, ultimamente, não é? Quanto mais mísseis atirar, bombas soltar ou quanto mais países intimidar e atacar, mais o seu " ;índice de popularidade" ; vai subir. 

Você é um homem de negócios, afinal. As regras do jogo são simples, fáceis de entender: você dá à sua população, o que ela deseja, e em troca ela dá-lhe apoio e admiração. O psicólogo Carl Jung descreveu esta cultura como "patológica". Ela já destruiu uma boa parte de todos os continentes da terra. Talvez agora esteja a tentar acabar com o resto. 

Estrada rural na RDPC. No entanto, você deve saber e compreender e estar totalmente ciente do seguinte: agora você pode obter amplo apoio dos seus concidadãos, mas se você fizer explodir a RPDC ou qualquer outro país do mundo, e se o mundo conseguir sobreviver, você e a sua " ;cultura" ; serão amaldiçoados durante os próximos séculos e milénios! Pense nisso. Realmente vale a pena? 

Talvez você se esteja nas tintas profundamente. Provavelmente é o caso. Mas tente pensar, tente imaginar: você vai entrar na história como um assassino degenerado e um fanático! 

Eis como há três anos descrevi o 60º aniversário do dia da vitória na Coreia do Norte:

"A banda começou a tocar de novo um trecho militar. Eu fiz zoom sobre uma velha senhora, com o peito decorado com medalhas. Quando me preparava para pressionar o botão do obturador, duas grandes lágrimas começaram a fluir pelo seu rosto. E de repente, percebi que não podia fotografá-la. Seu rosto estava completamente enrugado e no entanto era ao mesmo tempo jovem e infinitamente terno. Pensei "Este é o rosto que tenho procurado desde sempre" Porém, não consegui carregar no obturador da minha, Leica. 

Algo se me apertou na garganta e eu tive que procurar no meu saco um lenço de papel, porque meus óculos estavam embaçados, por um breve momento não via nada. Solucei bem alto, apenas uma vez, mas ninguém me pode ouvir por causa da música. 

As ameaças do imperialismo. Mais tarde, aproximei-me dela, inclinei-me para cumprimentá-la e ela fez o mesmo. Confortámo-nos no meio da praça principal. De repente senti-me feliz por estar ali. Ambos perdemos algo. Ela perdeu mais. Eu tinha certeza de que ela tinha perdido pelo menos metade dos seus seres amados durante a carnificina ocorrida há muitos anos. Eu também perdi alguma coisa, e agora perdi todo o respeito e sentimento de pertença a esta cultura que ainda reina no mundo. Esta cultura que já foi em tempos a minha, mas uma cultura que rouba a todas estas pessoas os seus rostos, para então queimar os seus corpos com napalm e chamas. 

Era o 60º aniversário do dia da vitória na RPDC. Um aniversário marcado por lágrimas, cabelos grisalhos, grandes fogos-de-artifício, desfiles e "memórias do fogo" ;. Naquela noite, depois de voltar à capital, finalmente cheguei ao rio. Estava coberto por uma névoa suave mas impenetrável. Havia dois amantes sentados perto da margem, imóveis e silenciosos. O cabelo da mulher caía suavemente no ombro do seu apaixonado. Ele segurou-lhe a mão. Eu ia levantar a minha grande máquina fotográfica profissional, quando de repente parei por receio de que o que meus olhos viam, ou que meu cérebro imaginava, não se reflectisse no visor" ;

O Ocidente já matou milhões de norte-coreanos. Quantos mais devem desaparecer, só por recusar render-se? Qual é o preço a pagar por não aceitar servir o Império? Vai ser 1 milhão, 10 milhões ou mais? Dêem-me um número, por favor. Você é um empresário, afinal de contas, anuncia o seu valor de vendas com toda a honestidade! 

A RPDC nunca atacou ninguém. Os Estados Unidos, que agora dizem "sentir-se ameaçados", atacaram dezenas e dezenas de países, roubaram milhões de pessoas, suas vidas, sua liberdade e democracia, suas culturas, por todo o mundo. Há uma foto dentro da minha cabeça que quero compartilhar com todos os meus leitores, mesmo com o risco de cair desta vez no sentimentalismo. Pela primeira vez, não me importo. O momento não é de " ;estilo elegante e educado" ;. Então, ei-lo: 

Em dado momento, consegui afastar-me da nossa delegação. Foi na capital, Pyongyang. Pus-me a caminhar ao longo do rio poderoso, através de um enorme parque que rodeava antigas fortificações. 

A ocupação militar da Coreia do Sul pelo imperialismo. Avistei uma menina pequena com um grande laço no cabelo. Usava sapatos brancos. O sol estava a pôr-se. Sua mãe, uma mulher simples mas bonita, falava-lhe. Era óbvio quanto ela amava e acarinhava a sua filha. Elas não podiam ver-me. Eu assistia à distância. Havia tanta ternura, tanta serenidade, entre esses dois seres humanos. A mãe acariciou o rosto da filha, explicando algo, mostrando-lhe as árvores. Seus rostos eram totalmente descontraídos, sem medo, sem tensão, apenas amor. 

Caminhei para mais longe ainda no parque e vi um casal rodeado por um grupo de pessoas. Era uma sessão de fotos da família. Obviamente, tinha sido um casamento. Ele vestia uma roupa formal, ela um vestido de noiva. Então notei que uma boa parte da cara do noivo estava escondida por grandes óculos escuros. Ele era cego. Provavelmente estava gravemente queimado por trás dos seus óculos escuros. Sua esposa era mais jovem, e era atraente. Estava feliz! Continuou falando, rindo alegremente. Fiquei espantado. No Ocidente, as pessoas traem, abandonam-se por quaisquer inconvenientes, pelas razões mais egoístas. E ali, uma jovem atraente casava-se, alegremente, com seu homem seriamente ferido, para poderem andar juntos, lado a lado, para o resto de suas vidas. 

Eu vi muito da Coreia do Norte após essas horas no parque. Estive frente à mais fortificada fronteira da terra. Conheci e discuti filosofia e como o Ocidente tenta desumanizar os seus inimigos, com Yang Hyong Sob , vice-presidente do Comité permanente da Comissão popular suprema. Discuti filosofia e existencialismo com o grande teólogo e filósofo John Cobb, a bordo de um autocarro que nos levou de Pyongyang à fronteira. 

Houve "grandes momentos" durante esta viagem, grandes celebrações à minha volta. Houve espectáculos sofisticados e discursos, marchas e música. No entanto, nada me tocou tão profundamente como aqueles momentos no parque. Lá, vi um enorme carinho dado a uma criança por sua mãe. E tenho testemunhado esta beleza natural, a simplicidade e a alegria do amor, misturado com serenidade e dignidade irradiando de uma jovem que se casa com seu companheiro cego e ferido. 

Esta é a Coreia do Norte que tive o privilégio de ver com meus próprios olhos. É a Coreia do Norte que o Presidente dos EUA quer "tomar conta", o que significa "destruir". Foi na Coreia do Norte onde verifiquei, como em tantas outras ocasiões, em tantos outros países, que há ainda muito amor nesta terra e que nenhuma brutalidade, nenhuma crueldade, jamais poderá vencer. 

Este texto não é dos meus " ;normais" ;. Não é filosofia, nem história. Não sei o que é. Não me interessa o que é. Eu só queria compartilhar algo com meus leitores: algo que me interessa no momento, algo que quebra e grita e que se revolta contra este estado de coisas. O que tenho a certeza, é que, agora, eu quero estar lá, em Pyongyang. Eu quero voltar, mesmo que ninguém me tenha convidado. 

Se o supervisor, o gerente, o Presidente, decidir atacar, quero estar em pé e alerta e pronto, face aos seus navios e seus mísseis. E assim, como sempre, sem abrigo ou colete à prova de bala, só com minhas máquinas fotográficas, uma caneta, um bloco de notas e um pequeno dragão asiático – para dar sorte – no meu bolso. 

Não terei medo. Não creio que a maioria das pessoas da Coreia do Norte tenha medo. Somente aqueles que estão dispostos a cometer assassinatos em massa, de novo e sempre, em todo o mundo, agora estão com muito medo. Pelo menos inconscientemente, pelo menos na sua própria essência, assim como na sua própria loucura. 

terça-feira, 23 de maio de 2017

O consumo na Coreia do Norte


Resistir.info - A constante enxurrada de desinformação e calúnia contra a República Democrática e Popular da Coreia intensifica-se nos media corporativos.   Servis à batuta do império estado-unidense estes media fazem tudo o que podem para diabolizar um governo que quer viver pacificamente.   Agências de notícias e jornalistas presstitutos esmeram-se em propalar todas as invencionices dos serviços secretos da Coreia do Sul, até as mais inverosímeis.   Ao mesmo tempo, procuram ocultar os grandes feitos de um povo admirável.   Mesmo com o boicote a que é submetida, a RDPC conseguiu um nível de desenvolvimento técnico e científico que se equipara mesmo ao de países desenvolvidos e um padrão de vida para o seu povo que sobe a olhos vistos – apesar da colossal quantidade de recursos que, diante do belicismo estado-unidense, o país é obrigado a desviar para a sua defesa. 

O artigo abaixo foi escrito por um conservador.   Entretanto, apesar de algumas farpas, procura manter alguma objectividade e apresenta dados factuais.   O facto de ser preciso dizer que na Coreia do Norte o povo quer paz e que ali existem super-mercados – oh, espanto! – mostra bem a miséria do jornalismo ocidental. 

Devido a estes vislumbres de objectividade resistir.info resolveu publicar esta peça.

Ruediger Frank - Durante minha última viagem à Coreia do Norte, em fevereiro de 2017, notei uma série de acontecimentos interessantes que ocorreram desde a minha visita anterior em maio de 2016. Eles incluem o desaparecimento das grades de ferro das janelas e varandas nos dois primeiros andares de edifícios residenciais em Pyongyang, uma mudança completa do design das placas de matricula dos carros, o surgimento de uma lotaria desportiva, o uso generalizado de bicicletas elétricas na capital e um número crescente de oportunidades de compras para uma crescente classe média. 

Esta situação permanece a maior parte das vezes como uma impressão, já que os estrangeiros raramente podem testemunhar compras regulares na Coreia do Norte. "Regular" significa que o lugar é frequentado principalmente por norte-coreanos, que o acesso não é restrito e que é usada a moeda local. A experiência dos ocidentais quanto ao comércio é muitas vezes limitada aos átrios dos hotéis, lojas de selos, livros e recordações locais à venda nos principais lugares de atração turística e outras lojas de moeda forte. Nos últimos anos, tive poucas hipóteses de ir a lugares onde os cidadãos norte-coreanos normais fazem as suas compras. Estes incluíram o mercado de rua Tongil em Pyongyang e um grande mercado na zona económica especial de Rason. Em ambos os lugares, as fotos não foram autorizadas. Em Rason, podem-se comprar mercadorias com o won norte-coreano ou o yuan chinês. Este último é preferido. O won norte-coreano pode ser trocado à taxa de mercado (8 000 won para 1 dólar dos EUA) num banco local. 

Em fevereiro de 2017 finalmente consegui visitar um terceiro centro comercial norte-coreano, o Kwangbok Shopping Centre em Pyongyang. A sua abertura foi originalmente planeada para dezembro de 2011, mas foi atrasada até ao início de 2012 devido à morte de Kim JongI Il. Kim Jong-Il e Kim Jong Un haviam visitado o lugar juntos em 15 de dezembro de 2011 para orientação no local, a forma típica norte-coreana de "passagem à microgestão" desenvolvido por Kim Il Sung e vagamente baseada na tradição do Leste Asiático de governar pelo exemplo. Isto significa que Kwangbok representa o melhor que o regime pode oferecer em termos de uma experiência de compras; no entanto, o acesso não é limitado e os preços são representativos. 

Aquando da sua abertura, o centro comercial de Kwangbok foi uma “joint venture” com um parceiro chinês (Feihaimengxin International Trade Co. Ltd). Esta cooperação bilateral foi elogiada na imprensa do Estado e visivelmente expressa pelo sinal bilíngue na fachada do edifício, algo muito raro na Coreia do Norte. No último semestre de 2016, no entanto, os caracteres chineses foram removidos, implicando uma possível mudança de propriedade. Por outro lado, as etiquetas de preço são ainda bilíngues, portanto, como muitas vezes ocorre, só podemos fazer conjeturas até aparecerem informações mais precisas. 

Em qualquer caso, o centro está a funcionar e, o que é mais importante, pode ser visitado pelos ocidentais. Mesmo que eu não fosse particularmente encorajado a fazê-lo, desta vez consegui tirar algumas fotos e gravei cerca de 100 preços dos produtos de consumo, variando de batata e carne de porco a painéis solares e frigoríficos. 

Os clientes no supermercado usam carrinhos de compras normais, como estão onipresentes no nosso mundo globalizado. Os produtos estão pousados nas prateleiras em que podem ser colhidos diretamente. Isto é ao contrário da forma tradicional de compras na Coreia do Norte, onde as mercadorias são exibidas atrás de um balcão e a ajuda de um assistente de loja é necessária. 

À chegada à caixa de pagamento os produtos são digitalizados numa caixa eletrônica e pagos em won norte-coreanos. Podem ser trocados contra dólares americanos, euros, ienes japoneses e yuan da China num pequeno guichet que também é no piso térreo. A taxa de câmbio, conforme indicado num pequeno placard é 8 000 won para 1 dólar e reflete a taxa de mercado. Por dez Euros, recebi 83 000 won o que foi mais que suficiente para pagar a minha compra de bebidas, frutas e lanche. Também podia ficar com o troco e tirá-lo do país sem restrições. Parece que não estão sendo usadas notas menores que 100 won; em vez disso, goma de mascar feita localmente é oferecida aos clientes em troca, cada barra representa 50 won. 

Como seu nome nos diz, o centro comercial está localizado na rua Kwangbok. Consiste em três pisos. No piso térreo, há um supermercado vendendo todos os tipos de bens, assim como alguns itens de utensílios de cozinha. No segundo andar, sapatos, roupas e artigos domésticos selecionados são oferecidos. O terceiro andar abriga algo como o que chamaríamos de um mercado de alimentos. Mas não visitei este piso. O design e a experiência de compras assemelham-se aos padrões ocidentais segundo a forma adotada na China. 


Entre as características notáveis do centro comercial está o cartão bancário "Chonsong”. De acordo com o seu poster promocional, oferece uma série de serviços financeiros, incluindo a opção de trocar os depósitos entre diferentes cartões ou poupanças a uma taxa de juros fixa. O cartão Chonsong, que está competindo com o onipresente cartão Narae e o cartão menos popular Koryo Card, é emitido nada menos do que pelo Banco Central da RPDC. Não encontrei nenhuma indicação de um cartão de fidelidade, mas isso pode ser apenas uma questão de tempo. 

A gama de produtos à venda no supermercado é muito ampla. Inclui bebidas alcoólicas e não alcoólicas, diferentes tipos de pão, vegetais, óleo, doces, carnes, frutas, produtos lácteos e cigarros. 

Muitos produtos parecem ser feitos localmente, a julgar pela linguagem usada nas embalagens. Notei pelo menos 25 tipos diferentes de [molho] soyu, com preços variando de 1 900 won a 9 200 won por garrafa. Vinhos tintos, brancos e espumantes podem também ser comprados, com preços até 100 000 won. As bananas e melões que vi podem ser importados ou cultivados nas estufas construídas no início do século XXI com ajuda holandesa. As laranjas são provavelmente importadas. Peras e maçãs crescem na Coreia do Norte, por exemplo na fazenda de maçãs de Taedonggang. As maçãs parecem estar disponíveis em grandes quantidades, como vi em inúmeras lojas por todo o país — certamente uma visão notável para fevereiro. O preço é 5 500 won por quilo. 

Também no piso térreo existem máquinas de lavar roupa Siemens fabricadas na China, diferentes tipos de frigoríficos, televisões de ecrã plano Konka, produtos eletrónicos, incluindo receptores DVB-T e computadores tablet, calculadoras eletrônicas e assim por diante. As máquinas de lavar são bastante caras em comparação com padrões europeus, o resto é razoável, por exemplo, cerca 2 milhões de won para um frigorífico de seis pés fabricados em Zhejiang Xingxing. 

Os telemóveis são agora mais um sinal da crescente influência da nova classe média. Estavam disponíveis quatro tipos de bicicletas elétricas Rungnado feitas localmente e Meiying importadas por aproximadamente 2,6 milhões de won cada, bem como bicicletas normais por cerca de um quarto daquele preço. Como mencionei acima o número de bicicletas elétricas cresceu exponencialmente; a capital estava cheia delas, a minha estimativa aproximada é que em cada 20 bicicletas em Pyongyang, hoje em dia uma é elétrica. 

Uma mudança acentuada na cultura de consumo socialista e outro indicador de mercantilização é a disponibilidade de alternativas e produtos em concorrência. Ao invés de comprar "pasta de dentes", por exemplo, os clientes norte-coreanos podem agora escolher entre uma grande variedade de produtos feitos localmente. Pelo menos dez tipos diferentes são vendidos no centro comercial Kwangbok, incluindo pasta de dentes para crianças, por 3 800 won, pastas com efeito de branqueamento e uma marca de luxo com nano-tecnologia por 30 mil won. Marcas de cosméticos locais incluem Chip'yongson, Pomgol ou Malgun Ach'im. 

O segundo andar oferece uma seleção bastante grande de roupas de homem e de mulher assim como sapatos. Eu vi pelo menos 60 pares diferentes para senhoras com preços em torno de 200 mil won e 25 pares de sapatos masculinos com preços entre 50 e 250 mil. Mais adiante, estão ferramentas manuais caseiras importadas da China. Uma embalagem de silicone custa em torno de um dólar. 

Visitantes da Coreia do Norte irão constatar inúmeros painéis solares ligados às janelas dos apartamentos, particularmente nas zonas rurais onde o abastecimento de eletricidade parece ser menos fiável que na capital. Dependendo da dimensão, custam entre 600 mil e 1,7 milhões de won. Uma bicicleta elétrica custa 350 dólares o que parece muito barato para nós, porém é mais de seis meses de salário para a maioria dos norte-coreanos. 

Implicações 

Que importa tudo isso? Para começar, a verdade dos factos sobre qualquer assunto relacionado com a Coreia do Norte é rara, o que particularmente se aplica no que diz respeito à economia. Além disso e apesar de seu estatuto privilegiado por ter sido visitado pelos líderes, este centro comercial é real. Vi centenas de norte-coreanos a fazerem suas compras lá. O centro comercial de Kwangbok é também uma expressão visível do fosso crescente entre a nova classe média e o resto da população. 

A experiência de compras é completamente moderna e ocidentalizada, obviamente importada da China. Muitos produtos são feitos localmente, mas geralmente isso acontece em joint-ventures com empresas chinesas. O centro comercial de Kwangbok ilustra a influência econômica da China que vai muito além do comércio; os chineses estão a moldar o consumidor norte-coreano. Isto é uma má notícia para a Coreia do Sul, que esperava ter esse papel após a unificação 

O mais importante, no entanto, é que precisamos entender que a Coreia do Norte está a meio de uma transformação quanto ao consumo. Dez tipos de pasta de dentes? Quem precisa disso? Tal pensamento foi predominante entre os funcionários do Estado durante décadas, mas agora há espaço para uma lógica muito mais orientada para o mercado. Hoje, dez tipos de pasta de dentes? Tudo bem, se os clientes compram e um lucro pode ser obtido. Este é o novo pensamento na Coreia do Norte nos dias de hoje. A concorrência está em toda parte, inclusive entre agências de viagens, empresas de táxi e restaurantes. 

Os consumidores têm a beneficiar com uma maior variedade de produtos, preços mais baixos e melhor qualidade, eles vão-se acostumar com estas novas oportunidades e esperar mais. Em algum momento, o governo norte-coreano não terá outra opção senão proporcionar o quadro legal necessário, o que significa mais um afrouxamento das regras e permitir mais comércio. O Ocidente precisa de se perguntar se quer apoiar tais tendências e, caso afirmativo, se as sanções económicas e a negação da cooperação económica são a maneira correta de proceder. 

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