Um país com uma independência forte

A República Democrática Popular da Coreia é globalmente conhecida como sendo um país extremamente independente dada a perseverança dos princípios da independência política, da auto-suficiência económica e da auto-suficiência da sua defesa nacional.

sábado, 15 de abril de 2017

"Os turistas na Coreia do Norte ficam surpresos por todos terem o que precisam e serem felizes"


Em 1990, Alejandro Cao de Benós contactou pela primeira vez com algumas famílias coreanas que viviam então em Espanha. Em 2002, foi nomeado delegado especial para a Comissão de Relações Culturais, dependência do governo da Coreia do Norte.

Sputnik conversou com ele sobre como visitar um dos países mais herméticos do planeta no Pyongyang Café em Tarragona, Espanha.

Porque é que alguém haveria de fazer turismo na Coreia do Norte?

Bem, não sou eu que o digo, assim o dizem os grandes viajantes que estiveram no país e que o consideraram como o mais interessante do mundo. Não só a nível de monumentos, que são espectaculares, mas sobretudo também pela sua cultura, que se conserva sem ser afectada pela mal apodada “globalização” e que não se encontra afectada por outras culturas imperialistas. Por outro lado, pelo aspecto social, independentemente da orientação política do viajante, a possibilidade de poder contemplar e conhecer, no ano 2017, como se desenvolve um país socialista no qual a habitação é gratuita, não existe desemprego ou não há prostituição… pois soa quase incrível mas é algo muito interessante de se ver e conhecer pessoalmente.

Um turista pode lá ir sozinho?

Não, não é possível. Como turista existe uma norma do governo em como tem que ir acompanhado. Normalmente vai acompanhado por dois guias, que se revezam, que tratam das autorizações e que tratam da pessoa durante as 24 horas do dia. Residem inclusivamente no mesmo hotel em que se hospeda. Só quando se trata de visitas não turísticas, ou seja quando uma pessoa tem a confiança do nosso governo, é que não precisa de guia e pode mover-se tranquilamente, passear por onde quiser… mas para isso há que ter um nível de confiança que não se aplica ao nível turístico, pois é um sistema aberto e qualquer pessoa pode ir à Coreia como turista.

E o que faz um turista na Coreia do Norte?

Desde as 07:00 da manhã até às 20:00 da tarde o turista tem todos os dias um itinerário apertado. A maior parte das pessoas normalmente quer aproveitar o seu tempo ao máximo. Irá visitar os monumentos mais importantes da capital, as estátuas de bronze, a colina Mansu [com os monumentos de bronze dos líderes do país], a Torre da Ideia Juch, o maior Arco do Triunfo do mundo, provavelmente irá visitar o Palácio das Crianças, onde os jovens fazem uma representação da cultura tradicional, é quase certo, em quase todos os itinerários, que vá 200km até ao Sul, até à fronteira com a Coreia do Sul, para visitar Panmunjom, a zona desmilitarizada, e conhecer o porquê e como é actualmente a divisão da Coreia fomentada pelos EUA. Essa visita é tem bastante impacto, num lugar de alta tensão, onde se está cara a cara com os fuzileiros norte-americanos e é uma visita obrigatório. Se tiverem um pouco mais de tempo, sobretudo no Verão, organizam-se voos para Baektu, a montanha mais alta da Coreia, um vulcão extinto com umas paisagens naturais fabulosas.

O visitante, quando vai embora, mudou a sua opinião acerca da Coreia do Norte?

Sim, em 98 ou 99% dos casos muda por completo. As pessoas vão ao país com receio graças ao sensacionalismo de muitos órgãos de comunicação social, à manipulação mediática e a alguns governos… depois quando o veem a realidade com os seus próprios olhos, veem que não há pessoas a pedir pelas ruas ou a remexer o lixo, ninguém a viver em caixas de cartão, então ficam surpreendidas de que no país toda a gente tenha o que precisa e as pessoas sejam felizes, é o que os choca primeiro. Há um caso recente, o de Richi González Ávila, um treinador espanhol de basquete que esteve algum tempo na Coreia do Norte e está com vontade de voltar e uma das coisas que o surpreendeu foi que nos supostos países do Primeiro Mundo, os mais avançados, há uma quantidade de pessoas a viver em condições miseráveis e sem um tecto enquanto na Coreia do Norte as pessoas não vivem com grande luxo mas têm o necessário para viver.

Podemos utilizar as redes sociais durante a visita?

Claro, para isso os turistas podem comprar cartões com Internet para os seus telemóveis (…). Esse tipo de ligação sai bastante caro, mas existe.

O que mais tem agradado aos turistas?

Normalmente costuma ser a visita à zona desmilitarizada, pois quanto aos monumentos, são impressionantes mas ao fim de contas são construções. Porém, visitar Panmunjom e ver a tragédia que é a divisão coreana, ver a guerra fria que perdura desde os anos 50, isso tem impacto porque parece que não devia ser assim, que um país, uma só nação, entre irmãos, esteja dividida e que haja constantemente uma situação de guerra, a possibilidade de um conflito real, porque, na verdade, a guerra não acabou. Essa situação de tensão e ver cara a cara dos soldados do Exército Popular perante os fuzileiros norte-americanos é provavelmente o que mais marca todos os visitantes.

E do ponto de vista burocrático, que passos há a tomar para visitar a Coreia do Norte?

Basicamente, há que pedi-lo com um mês de antecedência, está aberto a todas as nacionalidades excepto a passaportes sul-coreanos e japoneses, os japoneses podem visitar a Coreia do Norte mas através de outro canal, a Associação dos Coreanos Residentes no Japão. Os coreanos do Sul não podem visitar o país porque oficialmente nos encontramos em conflito, não existem relações. Além disso, para um sul-coreano é completamente proibido visitar a Coreia do Norte por parte do seu próprio governo.

Porém, até pessoas de países com os quais não temos relações diplomáticas, como Israel e os EUA, podem visitar tranquilamente a Coreia avisando meramente com um mês de antecedência, desde que levem um passaporte, duas fotografias, um pequeno currículo onde especifiquem o seu endereço, contacto e dados pessoais e indicando o que querem visitar para se preparar o itinerário e o programa da viagem. É um processo muito muito simples e aprovam-se praticamente todos os pedidos.

E quanto custa uma viagem turística à Coreia do Norte?

Depende imenso do número de pessoas que vão participar na mesma viagem. Por exemplo, se uma pessoa fizer uma visita de uma semana sozinha, como tem que pagar o transporte, o motorista, os guias, os tradutores, as taxas turísticas… tem que pagar tudo sozinha (…) o custo pode rondar os 2.800 a 3.000 euros, tudo em hotéis de 4 estrelas, com tudo incluído. Fora isto há ainda o voo da Air Koryo [a companhia oficial da Coreia do Norte] de Pequim para Pyongyang, que é um voo de 145 minutos e que custa uns 550 euros. Estes valores podem baixar para 1.300 ou 1.400 euros dependendo do número de turistas presentes no grupo. Por exemplo, a partir de 15 pessoas já se fretam autocarros e dividem-se os custos entre os visitantes.

O que não podem os turistas fazer na Coreia do Norte?

Não podem andar sozinhos sem avisar o guia, se o guia não o autorizar ou não for acompanhado não pode sair do hotel – de qualquer modo tampouco há tempo livre, a agenda é muito intensa. Não podem tirar fotografias de instalações militares nem de pessoal militar sem autorização. Tal não quer dizer que se estiver num parque e houver um militar uniformizado com a família que não possa tirar uma foto deles ou até pedir-lhes para tirar uma foto privada, mas por regra geral, e sobretudo nos ‘checkpoints’ militares, não é possível tirar fotografias. Há que conservar o respeito para com o país, para com os nossos líderes e o nosso governo, e basicamente não levar elementos de propaganda massiva. Que quer isto dizer? Há pessoas que se julgam iluminadas por Deus ou que vêm [à Coreia do Norte] tentar fazer proselitismo da sua região e que trazem mil bíblias ou mil panfletos para fazer propaganda… isso não é permitido. Pode levar a literatura que quiser, mas para uso pessoal durante a visita, estas são praticamente as únicas restrições que há. De resto, não há nada de especial.

Quais são as ‘recordações’ favoritas dos turistas?

Costumam ser os postais, com posters de propaganda política, que assombram muita gente. Também t-shirts com a bandeira do país, alguns selos… e sobretudo insígnias com a bandeira nacional, que parecem ser o produto favorito dos turistas.

E qual é a proporção do turismo na Coreia do Norte?

Actualmente temos cerca de 50.000 visitantes por ano na Coreia, dos quais cerca de 5.000, uns 10%, não são chineses. Ou seja, a maioria absoluta dos visitantes são chineses, porque se tivermos em conta o turismo que passa pela própria fronteira… é extremamente fácil [visitar a Coreia do Norte], podem fazer visitas de dois dias, mas estão restringidos a uma área fronteiriça entre os dois países. O resto, os ocidentais, podem fazer visitas de uma semana a dez dias ou até de um mês… podem ser muito mais extensas. E desses 5.000, a maior parte são europeus, seguindo-se os canadianos e os australianos e, por fim, os estadunidenses.

Nada a ver com Barcelona…

Não, absolutamente nada, de modo nenhum, nunce permitiríamos que o nosso governo permitisse esse tipo de turismo de massas que impede que os próprios habitantes de Barcelona possam viver na cidade.

Fonte: Sputnik

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