quinta-feira, 4 de abril de 2013

Não reajamos de modo excessivo ao brandir do sabre norte-coreano



Ron Paul - A tensão na península da Coreia atingiu um novo pico, à medida que os EUA e a Coreia do Sul trocam ameaças com o governo da Coreia do Norte. A Coreia do Norte ameaçou retaliar contra as provocações dos EUA/Coreia do Sul e abjurou, dizem, o armistício que acabou com a Guerra da Coreia há uns 60 anos.
No lado oposto, os EUA e a Coreia do Sul levaram a cabo, o mês passado, um exercício militar naval durante três dias que incluiu, para além de outros vasos de guerra, um submarino nuclear americano. Este mês, os EUA e a Coreia do Sul levam a cabo outro exercício militar conjunto, desta vez utilizando bombardeiros B-52 americanos, capazes de transportar bombas nucleares, sobre a península da Coreia.
Esta escalada muito deve à redacção, por parte dos EUA, de um novo conjunto de sanções que o Conselho de Segurança da ONU deverá impor à Coreia do Norte. O embaixador dos EUA para a ONU, Susan Rice, que delineou a linguagem, prometeu que estas novas sanções “irão fazer mossa e uma bela mossa”. É improvável, dado o notório registo do insucesso das sanções. Contudo, o governo norte-coreano retaliou contra as novas sanções ameaçando lançar um míssil nuclear contra os EUA.
A reacção dos EUA foi absolutamente previsível. Em vez de tentar baixar o tom, o recém-nomeado Secretário da Defesa, Chuck Hagel, anunciou que o Pentágono, que ainda há poucas semanas afirmava que a “contenção” orçamental iria deixar os EUA indefesos, iria despender mais um milhão de dólares no reforço de novos interceptores anti-míssil ao longo da costa do Pacífico. Tal significa mais dinheiro e mais empregos para o complexo industrial militar que, na verdade, nunca se debateu com qualquer aperto de cinto, dado ambos os partidos partilharem da opinião de que o aparato militar na verdade é uma espécie de programa de empregos.
O Secretário Hagel, no decorrer do anúncio do aumento despesista de mil milhões, pareceu mais um falcão do que a pomba que os seus defensores esperavam, afirmando que “iremos fortalecer a defesa pátria, manter os compromissos para com os nossos aliados e os nossos parceiros e mostrar ao mundo, de modo claro, que os Estados Unidos se mantêm firmes contra a agressão [externa].” Obviamente, os exercícios militares mensais conjuntos dos EUA com a Coreia do Sul nas proximidades das fronteiras da Coreia do Norte não são considerados como uma agressão. Só o belicismo norte-coreano é que é. Questiono-me como reagiria a Administração Obama caso os chineses e os mexicanos levassem a cabo exercícios militares conjuntos ao largo da fronteira do Texas.
Como acabará isto? Pelo andar da coisa, mal. O manual da política externa dos EUA tem só uma página: fazer sempre aquilo que não funcionou no passado uma e outra vez e esperar que de futuro comece a funcionar.
A questão que se coloca é o porquê de ainda estarmos na Coreia. Por que é que, passados 60 anos, os militares dos Estados Unidos ainda se encontram a ocupar a Coreia do Sul, a patrulhar a sua fronteira, a imiscuir-se na disputa entre o Norte e o Sul? O que teria acontecido se os EUA não mantivessem tamanho poderio na Coreia, forçando a criação de uma Zona Desmilitarizada (DMZ) e fazendo com que famílias espalhados pelos dois lados não possam manter contacto?
A opinião mais popular é por a Coreia do Norte ser uma ditadura isolada governada por gente irracional, a única reacção possível por parte dos EUA é manter a situação militarizada. Manter a ameaça militar. Continuar a provocar. E sempre que possível, impor mais sanções redigidas pelos EUA. Contudo, a principal razão pela qual a Coreia do Norte se encontra isolada são as políticas isolacionistas do governo dos EUA. É isolacionismo impor sanções, proibir os americanos de efectuarem negócios, impedi-los ou proibi-los de viajar para países com os quais o governo dos EUA se encontra em desacordo. A Coreia do Norte encontra-se isolada em boa parte porque o novo governo a isolou. A Coreia do Norte ameaça atacar a Coreia do Sul e os Estados Unidos em boa parte por estes insistirem em levar a cabo exercícios militares extremamente provocatórios ao largo da sua fronteira. Tal não quer dizer que eu seja favorável ao governo da Coreia do Norte. Longe disso. Nem que acredite que este seja necessariamente a favor da paz. Mas sei reconhecer quando uma política é contra produtiva.
Estou longe de ser um isolacionista. Acredito que nos devemos envolver com o resto do mundo, mas não pela força ou pelas armas ou interferindo no desenvolvimento político interno de cada um. Devemos envolver-nos com as nossas ideias, aproximando as pessoas em vez de construir muralhas ou DMZs para os dividir. Uma alteração na nossa política pode não causar uma abertura ou uma melhoria instantânea, mas não tentámos já e durante bastante tempo a velha e falhada alternativa? Continuar a provocar a Coreia do Norte augurará acalmar ou piorar ainda mais as coisas?
Qual é a verdadeira “ameaça coreana”? A verdadeira “ameaça coreana” é a ameaça que constitui para a economia dos EUA uma reacção excessiva ao brandir do sabre por parte de um país do Terceiro Mundo, gastando milhares de milhões de dólares com o aparato militar. Não temos como pagar este império e mais cedo ou mais tarde este irá acabar.
25 de Março de 2013
Ron Paul foi membro do Congresso dos Estados Unidos pelo Partido Republicano.

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